domingo, 13 de fevereiro de 2011

Igreja é Comunhão...

Pelo batismo, todos somos chamados à comunhão com Deus, com a Igreja e entre nós mesmos. Todavia, para cada pessoa Deus faz um chamado diferente, ou seja, dá uma vocação. Nas nossas comunidades, é comum chamarmos de ‘vocacionados’ somente aqueles que sentem o chamado à vida sacerdotal, quando na verdade, a maioria das pessoas é chamada à vida matrimonial, que transforma o amor entre dois seres em sacramento do amor. Portanto, poderíamos dizer que todos somos vocacionados, mesmo porque, quem é batizado também participa do sacerdócio comum dos fieis, ou seja, une-se a Cristo sacerdote na oferta e no louvor a Deus.

A diferença do chamado ‘leigo’ para o presbítero, é que “aqueles que recebem o sacramento da ordem fazem parte do sacerdócio ministerial, ou seja, são ministros qualificados de Cristo para dirigir a Igreja, presidir a comunidade e administrar os sacramentos. Pela ação, devem mostrar a presença de Cristo no local onde se encontram”.

Talvez nos falte essa consciência: do quão importante somos na vida da Igreja. No Documento de Aparecida, os bispos afirmam que “os leigos são chamados a participar da ação pastoral, primeiro com o testemunho de vida, e em segundo lugar, com ações no campo da evangelização, da vida litúrgica e outras formas de apostolado, segundo as necessidades locais sob a guia de seus pastores” (no. 211). E os fiéis são importantes porque também levam Jesus Cristo a outros lugares e campos do conhecimento onde, muitas vezes, os religiosos não conseguem chegar, principalmente em matérias ligadas à ciência.

Neste sentido, é importante, interessante e estimulador que cada pessoa se considere em permanente processo de descoberta, mesmo trabalhando numa mesma pastoral há muito tempo, e principalmente, não se sinta ‘dona’ de determinado trabalho. Lembro com muito carinho, neste momento, do bispo emérito de Blumenau, Dom Angélico Sândalo Bernardino, que palestrando no evento “Povo de Deus Em Movimento”, realizado no Santuário Nossa Senhora da Paz, na Cidade Líder, em novembro do ano passado, comparou as comunidades a uma pipoqueira, e afirmou que cada um de nós é uma pipoca cheia de brilho e muito saborosa, mas no meio de nós, pipocas apetitosas, sempre há aquelas que não ‘estouram’. Na ocasião, o bispo também afirmava que se os discípulos de Jesus tivessem passado pelo seminário e ele fosse o reitor, teria mandado alguns deles embora. “Tiago e João pedem que, no Reino dos Céus, um se sente à sua direita e outro à sua esquerda; Pedro era teimoso feito uma porta, e na hora H, negou ter conhecido Jesus”, brincava.

O preparo dos jovens a futura missão presbiteral deve sim ser feito com muita cautela e dedicação. Neste sentido, é bem verdade o que afirmava o papa Paulo VI, em junho de 1968, aos padres da Igreja católica: “vocês não recebem o chamado para si mesmo, mas sim, para os outros. São homens da comunidade. E esse é o aspecto da vida sacerdotal mais bem compreendido nos dias de hoje. O serviço que vocês prestas à comunidade justifica a existência do sacerdócio. O mundo precisa de vocês, e a Igreja também”. Nos dias de hoje, eu diria mais: certamente, não deve haver maior alegria para um padre do que ver suas comunidades caminhando de forma independente, cada uma com as suas respectivas lideranças.

Nossas Igrejas estão repletas de gente talentosa, responsável pelas finanças, pela manutenção elétrica, pela liturgia, pela música, pela acolhida... Cada um exercendo sua vocação e seu papel. Mas aí também se deve ter cuidado: não é à toa que se chama ‘comunidade’. É um todo. Logo, as pastorais devem caminhar juntas. Se uma sofre ou não está indo bem, as demais devem estar ali para dar o apoio e procurar ajudar, caso contrário, criam-se guetos dentro das próprias igrejas.

É comum que, às vezes, não nos sintamos a altura do chamado de Deus: em certos momentos, podemos duvidar e questionar se, de fato, Ele fez a escolha certa para nós. Na dúvida, muitos optam apenas por participam das celebrações nas nossas comunidades e procuram realizar a missão que, certamente, é a mais difícil de todas: testemunhar e anunciar Jesus Cristo com a própria vida.

Perceba, portanto, que a Igreja é comunhão, pois para cumprir a missão com responsabilidade, os leigos precisam de uma sólida formação doutrinal, pastoral e espiritual, e adequado acompanhamento para mostrar o rosto de Deus e pregar os valores do Reino no âmbito da vida social, econômica, política e cultural (DA, no. 212). Por outro lado, se não houver gente nas nossas comunidades, de que adiantará o serviço dos padres? Há, portanto, uma relação de dependência. Sejamos, pois, Igreja, e cada vez mais, irmãos, assembleia reunida para, com alegria, celebrar a Páscoa do Senhor Jesus.

Tiago Cosmo

Um comentário:

  1. Belíssimas e sábias palavras de um grande amigo!

    Tiago que Deus o ilumine nesta nova etapa de vida.

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